quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O candeeiro ainda está aceso

O clarão sagrado ainda arde!
Bernard-Henry Lévy dizia: "Sou judeu por parte da minha mãe e do meu pai. Sou judeu por parte de Lévinas, Buber, Rosenzweig. Sou judeu porque ser judeu significa amar mais a lei do que a terra e a letra tanto quanto o espírito." Mas não sei se é por isso. Sei que tu tens esse sangue, Malungo, tens esse testemunho, essa certeza da dureza da vida, da estrada sangrenta onde jogaram os hebreus.
E sabes, assim, Malungo Mário, a duvidar das coisas. A sabê-las por outro conteúdo, a desconhecê-las, conhecendo-as.
Tu, Malungo Mário, cujo poder mental é à guisa da cabra inquieta, fustigante, forte... Não para! Ele, minha gente, deve está, catingueiro de espírito que é, vagando nos campos brancos das caatingas cósmicas, pensando o que seria se fosse ele um raio de luz. Tens o poder, ó Malungo, de ser grande e tu sabe dessa peste, tu é consciente disso... Sabido que só ele!
Tô falando isso por conta do penúltimo post. Falou tudo, Malungo!
Aqui me aquieto, bebo dessa água salobra de Poço do Boi. Fico remoendo como a vaca Milongueta de Ludugero.Nosso texto é o espargir de emoções violentas que surgem, amiúde, dentro de nós mesmos, pois anseiamos nesta linguagem muito nossa, muito exígua, a consciência universal de irmandade, de homens e mulheres reunidos tão somente debaixo ou ao redor do sétimo candeeiro.
Vou até rasgar uma nesga desse seu penúltimo post. Foi perfeito demais! Perfeito demais Malungo: "posso contar-lhes que não podemos sentir a dor de ser o que somos e o modo como encaramos as coisas faz a diferença.. Ja vi pessoas felizes que sofriam por ser o que eram, mas se viam ainda mais lúcidos e assim encontraram a felicidade..."
O clarão sagrado ainda arde!
Claro como as noites do sertão. Estou ouvindo, Malungo, nesse momento Capelinha do Chico Mineiro, quem canta é Zico e Zeca e me dá aquela saudade. De Salinas, do queijo bom, da cachaça amarelinha escorrendo copo abaixo. Quando falávamos, sem pretender, desdes mundos ignotos, desses espaços infinitos das idéias, das nossas inquietações profundas deste fenômeno de vida. "O modo como encaramos as coisas faz a diferença.." - Você sintetiza! Quando o próprio Lévy afundava os grandes do século XIX, numa crítica dura em seu La Barbarie à visage humain um deles, Nietzsche, não estava de todo errado em um aspecto... Eu também sou de direita, mas oxalá! Todos soubessem do que Nietzsche dizia daquela "transvalorização de todos os valores" - É a verdade Malungo! A parte mais poderosa do discurso do homem de Röcken.
Uns procuravam e ainda procuram, Malungo, em vão, nas igrejas,sua consciência. Tu já sabia. Contava pra Tides, pra mim, pra todos e nós nem thum... Vou permanecer aqui. Pelejando, pelejando! Posto alguma coisa outro dia, por que tem que ser assim, Malungo, saído da alma, dessa coisa informe e amorfa que preenche o vasto espaço negro, frio e sem vida do mundo.
O sol fustiga também. Vou descer os Pombos, vou parar na Lapa. De lá, cantarei sobre o seu Morro e falarei de tua Dulcinéia, aquela que disse ser a mais bela das donzelas. Falarei dela às águas do São Francisco e elas espelharão o seu rosto, tremido pela correnteza, opaco pela lama. O São Francisco é alguma coisa parecida com eles... "O modo como encaramos as coisas faz a diferença.."
Discutir com eles é perder tempo. São religiosos. Tapados. Idiotas. O melhor que se faz é prendê-los no seu próprio orgulho, fazendo-os crer que sabem e depois se desgraçam quando descobrem seu ledo engano. Desconhecem o lado oculto da vida, esta parte mais seca, mais pedregosa, de água mais salobra... Assim como sabem pouco, muito pouco do sertão de nossa terra, da caatinga, Malungo!
Fiz alguns acertos. Retirei alguns espinhos, debastei algum mato, arranquei urtiga, ajeitei a cerca, caiei a casa, limpei o feijão-de-corda do seu último post, ainda tenho aquela desgraça de Transtorno Obssessivo Compulsivo.
O clarão sagrado ainda arde! E não neguei Cristo três vezes...

Malungo André

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