sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Andanças

Homem tem que ser de palavra. Não varia. Eu vario. Oscilo, mudo, cambaleio. Como o instinto dessas aves migratórias que por aqui passam na busca feliz de novas plagas... E meu pensamento pombo-correio: Sempre vai... Sempre volta...
Andei lendo que isso é mesmo coisa de judeu, sempre teimoso; discordante. Mas é que sinto vontade de teimar ainda que esse outro eu não concorde comigo! E aí é que teimo pra valer. Eu posso dizer mais alto e ouvir mais alto ainda quando ele destoa a voz já grande de um pensamento errante, meu. Pois lá nada se parece com coisa frágil, é duro, feroz, feito de uma ação mais duradoura, menos pequena.
E quando entro em debate comigo mesmo, sempre irrito, sempre exulto. No final as coisas, as contas acabam bem, não por que devessem acabar assim como num capricho mesquinho, que se cala, fazer bonito. Não. Mas por que, parturiente daquela verdade maior, a busca, sempre entoa um canto novo, um novo milagre da descoberta. E assim, novo, sempre novo, saboreio a vida. E na mesma medida em que penso na amizade do tempo, também vejo nele um inimigo. Me dá o prazer da vida, se vivida. Experimentada, saboreada igual esse café que bebo aos goles. E que deveria ser bebido sem medida de tempo, sem que o facão cortasse num pedaço só a parte dele. A parte do cuscuz comestível. O cuscuz, meu todo, o abraço que faço no eterno, o deus que eu sinto, vivo, experimento; o pedaço, esfarinhado no prato ou na tábua do periquito, vida menor, essência mesma, porém menor da amplidão do milharal que lho formara alhures. Não sei se quem um dia ler estas palavras de um caatingueiro que acha que sabe alguma coisa, vai entender a lição que a imagem, visual que sou, o cuscuz dá-me. Mas é do cuscuz, inteiro, esfarinhado, esparramado que chego à minha realidade dicotômica, verdade talvez final daquilo que ando pensando quando o sono não vem.
O pedaço do cuscuz é bom, quando no fundo o tempo é um amigo, inseparável, companheiro, generoso e tira o gosto da boca, solícita, por que não consigo comê-lo todo. Assim é. Assim penso. Quem sabe Biluca pensa assim também! E seja assim conosco. E quando tu vier, eu te comprarei da colônia e te banharei nessa essência de tempo, gabará, dirá uma louvação e menina, moça naquela chita e nas anáguas sérias então haverá um todo de amor, um todo de vida na crueza incerta, ainda mais crueza, de todo esse nosso trajeto!

Malungo André

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